A política é arte em que amador chora

 O "namoro" político foi promissor e chegou ao noivado, mas o casamento não aconteceu e tudo desandou na eleição de 1992.

Por Paulo Pires 
A história política de Camacã reverencia dois personagens célebres — não apenas pelo poder econômico que exerciam à sombra da nobreza do cacau,mas, sobretudo,pela influência que tinham sobre o município.Estamos falando de Luciano Santana e Anísio Loureiro.Sempre caminharam juntos no mesmo propósito político, desde 1976,quando Luciano se candidatou pela primeira vez.Por vinte anos,alternaram o palanque e consolidaram uma aliança que parecia inquebrável.
O "namoro" político foi promissor e chegou ao noivado, mas o casamento não aconteceu e tudo desandou na eleição de 1992.
Naquele ano,havia um acordo sólido entre os líderes:os candidatos seriam Luiz Castro para prefeito e Dr. Rubem como vice-prefeito.Martelo batido.
Ocorre que,no calor das articulações,Luiz Castro adoeceu e ficou impossibilitado de disputar o pleito.Naturalmente,pela lógica do compromisso firmado,Dr.Rubem deveria assumir a candidatura como titular.Mas o grupo de Anísio não aceitou.As alianças se partiram em bandas.
Justiça seja feita:quando Luciano Santana adoeceu e foi a São Paulo para tratamento,Dr.Rubem o acompanhou como um filho dedicado.Esse gesto estreitou ainda mais os laços entre eles.O carinho virou lealdade. E essa lealdade tornou o rompimento entre os "feras" inevitável.
Lembra que Luciano era Prefeito e Luiz Castro,seu vice,Luiz era da inteira confiança de Anísio,mesmo assim,Anísio foi para um lado e Luciano, para o outro.
Rubem manteve sua candidatura,agora com Messias Gama como vice, com o apoio de Luciano.
Do lado adversário,o nome lançado foi o do Dr.Jaquisson Guimarães.Mas as pesquisas mostravam que Dr.Rubem venceria Dr.Jaquisson.Então,em uma jogada de mestre e decisiva,Anísio foi lançado como candidato, mesmo em meio à crise da Vassoura de Bruxa,que devastava a economia local.Ainda assim,teve o apoio incondicional do então governador Paulo Souto.
No palanque de Rubem,Luciano pega o microfone e dispara:

“Meus amigos de Camacã,sei que tenho um certo prestígio com vocês, porque já votaram em mim duas vezes para prefeito e uma vez para deputado.Mas se,por ironia do destino ou por vaidade,eu ainda quiser me candidatar outra vez,eu vos peço:não votem em mim.Não votem, porque os meus dias já não me pertencem mais.Estou idoso.”

Foi uma porrada em Anísio?.Claro que foi.

Mas os ventos sopraram a favor de Anísio.Ele foi eleito prefeito e governou até janeiro de 1996,quando veio a falecer no exercício do cargo.
Aqui fica o registro de uma das páginas mais emblemáticas da história política de Camacã — onde a lealdade,a vaidade,a doença e o destino se misturaram no mesmo palanque.
Um forte abraço,
Paulo Pires 



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